segunda-feira, 18 de maio de 2009

Dzi Croquettes: Os transformistas brasileiros da contracultura que enfrentaram a ditadura







Dzi Croquettes
Os transformistas brasileiros da contracultura que enfrentaram a ditadura

Por Thereza Pires

3/9/2004




No final dos anos 60, toda uma geração se rebelava contra a sociedade conservadora. A ciência havia criado a pílula anticoncepcional, a moda de Mary Quant desafiava os limites do corpo e a juventude protestava contra a Guerra do Vietnã e a invasão da Tchecoslováquia pela União Soviética. Na Paris de 68, os estudantes da Sorbonne saíam às ruas criticando a estrutura das universidades, confrontando com a polícia e lançando novas palavras de ordem, entre as quais a famosa "é proibido proibir", que se tornou um mantra naquele tempos de mudanças.
A Bienal de Veneza, instalada em meio a forte aparato militar, foi o espelho da nova proposta de sociedade: formas arrojadas e novos conceitos artísticos criticavam a ordem vigente.

Arbitrariedades na ditadura militar
http://txt.estado.com.br/edicao/especial/AI5/ai517.html

Liberdade vigiada
Em 1974, o aniversário de dez anos da ditadura millitar que governava o Brasil foi comemorado com a "eleição" do general Geisel.
O governo tinha como objetivo restaurar a democracia, mas sem pressa. Este processo foi definido pelo próprio General Presidente como de "distensão lenta, gradual e segura".
As atitudes pretensamente liberais traziam, em seu âmago, ações autoritárias e prepotentes. Em todo o período Geisel, houve repressão ao Partido Comunista Brasileiro, às organizações clandestinas e muitas vezes foi utilizado o recurso abominável do AI-5
(Ato Institucional número 5 ) que estabeleceu a censura prévia à imprensa, o fechamento do Congresso e a limitação da liberdade política no país.
Os ventos de liberdade já haviam soprado em outra direção para nossos irmãos portugueses. Em 25 de abril, o levante militar conhecido como "Revolução dos Cravos" derrubou o regime político de extrema-direita que vigorava desde 1926.

30 anos da Revolução dos Cravos
http://www.duplipensar.net/principal/2004-04-cravos.html

Travestismo/transvestismo
O termo "travestismo" (ou transvestismo = trans + vestir ) foi criado em 1910 por Magnus Hirschfeld (1868-1935), sexólogo alemão e declaradamente homossexual. Magnus achava que este gênero de transgressão em forma de vestimenta representava um componente "simpático" para os quem têm dificuldade de se definir sexualmente O ato de se travestir é executado, na maioria das vezes por homens e muitos são os heterosexuais que utilizam a prática, sempre associada à cultura GLTB.

Leia mais sobre Hirschfeld
http://www.geocities.com/mhc_humanrights/

Travestismo ou Androginia nos palcos cariocas
Inspirado no grupo norte-americano "The Coquettes" - que tinha estrelas do brilho de Divine e Sylvester - e no movimento gay off-Broadway, surgiu no Rio de Janeiro, em meio ao contexto político complicado, o Dzi Croquettes.

Homossexuais masculinos, dirigidos pelo coreógrafo norte-americano Lennie Dale, usavam a arte de representar e dançar para fazer seu protesto irreverente.

Não se consideravam travestis, mas andróginos.
Ousados, usavam saias, botas de cano longo, barbas, bigodes e exibiam pernas cabeludas. A maquiagem carregada fazia o contraste dos corpos masculinos em trajes femininos.

Seu primeiro show - Gente Computada Igual a Você (1972) - fez o grupo ser execrado pelo Serviço Nacional de Teatro, braço da ditadura, que se recusava a liberar verba para patrocinar a ousadia.

A equipe original era constituída, além de Lennie Dale, por Wagner Ribeiro (autor dos textos) e os bailarinos Ciro Barcelos, Cláudio Gaya, Reginaldo de Poli, Rogério de Poli., Cláudio Tovar, Paulo Bacellar, Carlinhos Machado, Benedictus Lacerda, Eloy Simões e Bayard Tonelli.

Sucesso na Europa


Elaborada como show musical, Gente Computada era uma comédia de costumes debochada e teve uma carreira brilhante em São Paulo. Com dublagem, dança, canto e depoimentos pessoais dos integrantes, criticava com sutileza a realidade brasileira, a repressão sexual, a censura imposta pelo AI-5 e a ditadura militar.


Tinindo Trincando, dos Novos Baianos e Assim Falou Zaratustra, em versão dance e technopop faziam o delírio das platéias. Levados à Europa pelo empresário Patrice Calmettes, os Dzi Croquettes foram a sensação das noites de Paris. Além de longas temporadas no clube noturno "Le Palace" (foto), trabalharam em Ibiza e em Londres e participaram do filme "Le Chat et la Souris", de Claude Lelouch.
Em 1976, Wagner Mello e Cláudio Tovar criaram um novo espetáculo: "Romance". Em seguida, um elenco de atrizes se junta ao grupo pioneiro. Pouco depois, os atores se separam, alguns deles iniciando carreiras-solo consistentes e duradouras.

Leia a entrevista de Sergio Mamberti sobre teatro na ditadura e conheça o site da Radiobrás:
http://www.tvebrasil.com.br/paranaodizer/txt_tea_mamberti.htm

Conheça o site da Radiobrás: www.radiobras.gov.br

Lennie Dale
Lennie (Leonardo La Ponzina) Dale, coreógrafo, cantor, ator, ensaiador, dançarino, norte-americano radicado no Brasil nasceu em 1934, em New York e foi o criador dos DziCroquettes.
Dedicou sua vida ao ballet, horror do pai, sapateiro italiano, que não se conformava em ter um filho bailarino. Foi ídolo da tv americana, co-estrelando com Connie Frances o programa infantil "Star Lime Kids".
Participou do "West Side Story" na Broadway, dançou com Gene Kelly em shows, coreografou "Cleópatra" - a megaprodução da MGM estrelada por Elizabeth Taylor, de quem se tornou amigo.
Em 1960, o olho clínico do empresário da noite Carlos Machado o descobriu em Roma. Lennie encantou-se pelo Brasil e, totalmente adaptado ao clima local, além do teatro de revista trabalhou como coreógrafo das boates do famoso Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro.
É considerado o precursor do ensaio entre os músicos e cantores da bossa-nova. Dirigiu vários shows, produziu e criou uma coreografia especial para o novo ritmo que surgia. Cuidou do visual e do gestual de Elis Regina, ela também uma estrela que começava a brilhar na MPB.
Chegou a voltar para os Estados Unidos mas retornou ao Rio de Janeiro, onde foi preso por porte de maconha, passando um ano na penitenciária Helio Gomes.
Foi o responsável pela coreografia da novela "Baila Comigo", em 1981 e produziu o musical "Leonardo La Ponzina", no Rio de Janeiro.
Lennie Dale morreu em 9 de agosto de 1994.

História Completa da Bossa Nova
http://www.geocities.com/SunsetStrip/Palms/2102/bossap1.html

Fonte: MixBrasil

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