sábado, 27 de junho de 2009

Diretor e elenco de "Questão de Gênero" realizam debate sobre transexualidade

Diretor e elenco de "Questão de Gênero" realizam debate sobre transexualidade
Por Marcelo Hailer 17/6/2009 - 13:11


Com o público ainda digerindo o documentário "Questão de Gênero", o diretor Rodrigo Najar iniciou o debate após sessão da pré-estreia realizada nesta terça-feira (16/06), no HSBC Belas Artes, dizendo que escolheu fazer um filme sobre transexuais, pois tinha o desejo de pesquisar algo que fosse diferente de si.

Najar revelou que, durante o processo, acabou por descobrir mais "semelhanças do que diferenças" em seus personagens. Participaram da mesa Alessandra Saraiva, mulher transexual e conhecida da comunidade por organizar as "Terças Trans", Erick Barbi, homem transexual músico retratado no filme, e o diretor do documentário, Rodrigo Najar. A psicóloga do Centro de Referência de Campinas, Barbara Meneses, juntou-se à mesa para debater a questão trans.

Najar justificou a ausência de Xande, presidente da Parada de SP, que também é retratado no filme, dizendo que ele não pôde comparecer por estar ocupado resolvendo o problema dos ataques homofóbicos realizados pós-Parada. Com esse gancho, o diretor pediu aos debatedores que falassem da violência. Alessandra foi enfática e disse ser mais fácil falar das vezes que não sofreu com ataques homofóbicos.

Erick Barbi contou que, para não sofrer discriminação social, buscou ser o "melhor aluno, o melhor filho". Segundo ele, bastava virar as costas "para as risadinhas acontecerem". O músico relatou que, hoje em dia, já não sofre tanto, pois conseguiu mudar o seu nome em todos os documentos. No entanto, fez questão de ressaltar que as pessoas trans "sofrem preconceito de todos os lados". "As pessoas são cruéis e nós temos que mudar a cabeça delas", afirmou.

Questionada sobre o modo como os psicólogos fazem o diagnóstico em mulheres trans que estão no processo de encaminhamento para a cirurgia, a psicóloga Barbara Meneses assumiu que, boa parte deles, se baseia no padrão heterossexual e que os profissionais "estão muito fechados para repensar essa questão". Meneses assumiu que a maioria dos profissionais cobra um "estereótipo masculino e feminino".

Barbara disse considerar esse padrão de análise dos psicólogos dos centros da Santa Casa "um absurdo" e questionou: "Então uma mulher transexual não pode gostar de corridas de carros?". Além da problemática de se conseguir um diagnóstico que ateste o sujeito ser homem ou mulher transexual, para que assim possa fazer a cirurgia pelo SUS (Sistema Único de Saúde), falou-se também do drama para mudar os nomes nos documentos.

Alessandra, que já fez a cirurgia de transgenitalização, contou que, mesmo operada, não consegue autorização judicial para trocar seu nome nos documentos. "Por isso a importância de uma lei, assim não temos que ficar aguardando a boa vontade do juiz", disse. Erick relatou que, nos Estados Unidos, a pessoa que estiver a três meses no tratamento e passando por acompanhamento psicológico, já pode requerer a alteração do nome nos documentos, isso antes mesmo de ser operado.

A respeito do descompasso entre a realidade social e da medicina em relação à questão trans, Barbara Meneses disse que a principal resistência está nos médicos e que as próprias transexuais "dão aula sobre hormônios". Em seguida, um dos presentes perguntou como colocar o nome no currículo.

A psicóloga explicou que, no Centro de Referência, pede-se às meninas que coloquem o nome social em destaque para deixar claro ao entrevistador. Alessandra relatou que decidiu trabalhar por conta própria, pois para ela "o mercado de trabalho é uma roleta russa e tudo depende de quem vai entrevistar". Disse ainda ser "altamente desgastante sair à procura de trabalho" e afirmou que o problema não é o currículo e, sim, "o preconceito do entrevistador".

Uma expectadora disse que estava com dificuldades para se afirmar como mulher transexual e pediu conselhos à Alessandra, que respondeu: "Olha, esse processo é difícil, mas você tem que se impor". Alessandra destacou que há uma lei que proteje as trans nesse caso: "Você chega e diz: prazer, sou Cintia, me respeite, senão eu entro com processo baseada na lei estadual anti-homofobia 10.948". Tanto Alessandra quanto Barbara se ofereceram para ajudar a menina no que fosse preciso.

Após um debate intenso de informações e curiosidades, o diretor Rodrigo Najar agradeceu a presença de todos e o debate terminou por volta das 23h.


Fonte: A Capa


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