sexta-feira, 24 de abril de 2009

Há uma década, Conselho Federal de Psicologia proibiu que terapeutas tratem a homoafetividade como doença ou desvio de comportamento

Vitória contra preconceito

Há uma década, Conselho Federal de Psicologia proibiu que terapeutas tratem a homoafetividade como doença ou desvio de comportamento


Paloma Oliveto - Correio Braziliense



Publicação: 22/03/2009 13:48
Atualização: 22/03/2009 14:05

O Conselho Federal de Psicologia e o movimento gay comemoram hoje uma data histórica: os 10 anos da resolução que proibiu profissionais de oferecerem cura para a homossexualidade. O ato, pioneiro no mundo, inspirou a legislação de colegiados de países europeus e dos Estados Unidos e, de acordo com o presidente do CFP, Humberto Verona, contribuiu para o debate público sobre o tema. “A resolução é usada até hoje pelos movimentos contra a homofobia como referência. Para nós, ajudar a sociedade a compreender melhor esse fenômeno, antes tratado como desvio ou patologia, é um orgulho”, diz.

Até uma década atrás, conta o presidente do conselho, era comum psicólogos oferecerem tratamentos para homossexuais, como se isso fosse um problema comportamental. Hoje, explica, os profissionais brasileiros entendem que a escolha homoafetiva faz parte da experiência humana e deve ser considerada uma orientação. “É uma opção de afeto, relacionada a diversos fatores. O genético pode ser um deles, mas não significa que é um defeito. Pode ser genético assim como a definição da cor do olho, do cabelo e da pele”, explica.

Ele admite, porém, que, mesmo com os avanços, alguns terapeutas ainda insistem em tratar a homossexualidade como desvio. “Eventualmente, recebemos dos conselhos regionais denúncias de pessoas que foram procurar um psicólogo por estar sofrendo e ocorreu de um profissional mais desinformado oferecer cura”, conta. O desrespeito à resolução é considerado falta grave. “Se comprovado que houve essa conduta, há uma punição ética que pode chegar à cassação do diploma”, lembra.

Estigmas
Para Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), a sociedade ainda enxerga a homossexualidade com foco em três preconceitos: doença, pecado e crime. “A resolução do CFP ajudou muito a desmitificar a homoafetividade como doença. Até então, havia inclusive encontros nacionais de psicólogos cristãos que defendiam o tema”, diz. “Com essa resolução, o conselho deu uma importante contribuição para a reflexão sobre o preconceito, as discriminações e estigmatizações contra gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais de todo o país, demonstrando sua preocupação com a promoção e bem-estar das pessoas e da humanidade”, afirma.

A promessa de “cura” para gays, porém, ainda existe. Mas, no lugar dos psicólogos, entraram algumas igrejas e movimentos ligados à ala neopentecostal evangélica. Em João Pessoa, um ex-travesti de 39 anos virou irmão Clóvis, pastor da Assembleia de Deus Missão. Sua história rendeu o filme O Rebeliado , que estreou na Paraíba em fevereiro passado. Mendigo na terra natal, Clóvis foi para o Rio de Janeiro, onde se prostituiu e depois voltou para o Nordeste, convertido.

De caráter “cristão interdenominacional”, conforme se autointitula, a organização Exodus Brasil, braço nacional da norte-americana Exodus Internacional, tem como missão “unificar e equipar cristãos para ministrar o poder transformador de Jesus Cristo àqueles de alguma maneira envolvidos na homossexualidade”. Baseada em Londrina, a organização produz textos e promove encontros sobre o assunto. No site, há testemunhos de “ex-gays” — nenhum deles brasileiro — que contam como teriam “sido curados” pela Bíblia. O Correio tentou entrar em contato diversas vezes com a Exodus por telefone, mas não obteve retorno.

Fonte: Correio Braziliense

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