Elas são queens | |
Por Jô Fagner - 17/4/2009
Foto: Reprodução
A trabalhadérrima Dimmy Kieer, ícone das drags brasileiras
Como elas mesmas costumam dizer: “drag não nasce, ela estreia”. O hábito de se travestir não é um fenômeno recente. Na Grécia, os homens subiam aos palcos para representar papéis femininos em comédias gregas. No Japão, as tradicionais peças Kabuki tinham homens de aparência andrógina atuando como mulheres. O teatro inglês não admitia atrizes no palco, colocando homens para substituí-las.
A drag queen é um fenômeno resultante da transformação dos conceitos de comportamento e cultura provenientes dos anos 80. Entoada pela Disco Music e pela onda New Wave, ela apareceu na cena noturna impulsionando o surgimento de grandes espetáculos e peças musicais.
O transformista, como era chamado na época, passou a ser conhecido como drag queen apenas em tempos mais recentes. “Dr.A.G.” (Dressed As a Girl - “vestido como uma garota”) era uma sigla usada por William Shakespeare para diferenciar os seus atores no roteiro das peças, separando papéis masculinos dos femininos; “queen” veio agregar sinônimo de nobreza e permissividade aos modernos. O termo “rainha dragão” referencia à maquiagem, cujo olho é igual ao de um dragão, por causa da sombra e da lente colorida.
Na montação a drag explora outra identidade, um alterego. Ela faz isso num cruzamento de fronteiras entre corpo, sexo e gênero, onde é incorporada uma nova linguagem. Com o uso de próteses, perucas, acessórios e maquiagem ela cria um personagem fixado num princípio de justaposição dos signos do sexo feminino ao seu corpo masculino.
Corpo e sentido
As drags validam as relações de fronteira na performance em um discurso contra a heteronormatividade, que sugere padrões de comportamento baseados numa regra heterossexual de manifestação de gênero. Elas também agem na reflexão dos fenômenos da estética visual, sobretudo da aparência feminina.
As top drags denunciam um “feminino exagerado”, com postura e indumentária específica e corpos construídos de maneira efêmera com o uso de próteses, bastante maquiagem e acessórios luxuosos. Elas demonstram uma padronização da imagem da mulher.
As caricatas anunciam o contrário. Com um figurino rico em detalhes inusitados, cores fortes e alegorias, elas contrapõem os modelos sugeridos nesses discursos midiáticos. Misturando interação e comédia em suas apresentações, elas satirizam aquilo que é imposto como regra para satisfação pessoal ou integração com o restante da sociedade, transformando tudo em piada.
Imagens de um Imaginário Performativo
A semântica do corpo da drag abrange os seus atos performáticos, executados em espetáculos e aparições. A drag possui linguagem através dos instrumentos que compõem a sua indumentária e a gestualidade que compõe seus atos, transformando o corpo em um documento dinâmico a ser lido pelos espectadores.
Ao jogar o leque, o personagem não visa a funcionalidade de ventilação, mas provocar um ruído que atua como estratégia de comunicação. Em ambientes ou em círculos de pessoas, esse gesto representa um modo de se dizer: “cheguei!”, anunciando a presença da drag e atraindo a atenção de todos ao redor para aquela figura.
O “bate-cabelo” é outro elemento importante dessa linguagem. Os giros rápidos e coreografados com a cabeça tem um simbolismo que refere-se a um valor de “montaria” dentro do grupo, criando a ilusão de possuir um cabelo natural. Esse gesto é uma marca convencional de grande parte dos shows desses artistas.
Em toda essa montação, as drags reproduzem as construções culturais dominantes em seu período e dentro de sua própria comunidade.
Em uma era de exacerbação da aparência, elas trazem no seu corpo não apenas a identidade gay em si, mas principalmente os reflexos dessa sociedade cotidiana, fundamentada em valores que subordinam a essência do ser humano a um mero conceito estético.
UPDATE:
18/4/2009 21:37:52 | - | Jo Fagner (jofagner@gmail.com) |
A referência da monografia é: SANTOS, J. Fagner dos, DANTAS, Milena Fernandes & PONTES, Danielle Cristine Felipe. "DRAGSTARS - Gestos, Segredos e Cores de uma Experiência Queen". Monografia (Trabalho de Conclusão do Curso de Comunicação Social, com habilitação em Radialismo) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2008. A monografia ainda não se encontra disponível na web. |
Fonte: MixBrasil
Olá, quem quiser conhecer mais sobre o estudo e o documentário, o link para o projeto é: http://dragstars.blogspot.com
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