06 de março, 2001 - Publicado às 20h43 GMT
Transexual brasileiro é candidato em eleições em Paris
Luciana Uchôa, de Paris
Camille Cabral, que não revela seu nome original, participa da chapa do Partido Verde. Ela é transexual, brasileira e é candidata nas eleições para uma das subprefeituras de Paris.
Médica dermatologista especializada em doenças sexualmente transmissíveis, ela acabou se tornando uma militante pelos direitos dos transexuais e das pessoas que se prostituem, sobretudo imigrantes clandestinos.
Por este motivo foi convidada a integrar a chapa do Partido Verde, que concorre às eleições de sub-prefeito e conselheiros municipais da 17.ª região administrativa de Paris.
Na parte norte desta região, mais pobre, há problemas como prostituição e outros trabalhos clandestinos.
Prostituição
Além de trabalhar para garantir tratamento médico aos marginalizados, Camille pretende, se eleita, criar um grupo de estudos para tentar regularizar a prostituição na região.
"Eu pretendo organizar uma comissão com representantes dos moradores, das pessoas que se prostituem e da polícia", disse a candidata.
Em 1992, Camille fundou a associação Prevenção, Ação, Saúde e Trabalho para os Transexuais - PASTT.
A candidata trabalha para "as transgêneras", termo que ela insiste em utilizar mas que não existe nos dicionários.
'Opção sexual'
Camille usa e reinvindica esta palavra porque para ela ser transexual é mudar de gênero, de identidade. Não se trata apenas de uma questão de opção sexual.
De fato, Camille tem toda a aparência de uma mulher - loira, alta, magra, bem vestida e de forma clássica.
A associação que ela dirige, subsidiada pela prefeitura de Paris, procura prevenir a transmissão da Aids entre transexuais que se prostituem, mas também luta pelos direitos sociais dos transexuais em geral.
"É um programa de saúde pública e de inserção social para estas pessoas que têm muita dificuldade para encontrar um trabalho por causa da aparência feminina que não coincide com o que está escrito no papel", explica a brasileira.
Segundo turno
As chances de Camille ser eleita existem mas dependem da negociação entre o Partido Verde e o Partido Socialista.
Os dois partidos vão formar uma frente para disputar o segundo turno das eleições. Para ser eleita, além é claro de sua coalizão ganhar, o nome de Camille precisa ser um dos primeiros da lista da chapa no segundo turno.
Por enquanto, a disputa entre partidos de esquerda e de direita na região está acirrada, e nenhum instituto de sondagem de opinião pública descarta a possibilidade de a esquerda ganhar. O primeiro turno das eleições municipais em Paris ocorre no próximo domingo.
Camille, há 20 anos na França, disse que pode se candidatar por ter dupla nacionalidade.
Fonte: BBC Brasil
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